terça-feira, 23 de março de 2010

No elevador...

por Israel Mendonça

Quando o elevador chegou, ela já estava lá. Vestido branco, notebook, perfume. Seus olhos azuis não eram acessórios. Brilhavam. Entrei.

O espaço era pequeno; a nossa permanência nele, menor. Esboçando um sorriso, já ouvindo uma resposta, resolvi dividir, com uma estranha, o primeiro desejo do dia: queria que aquela manhã de segunda-feira fosse um dia bom. Cheio de esperança, disse: bom-dia. Silêncio. Não houve resposta. Maior que o espaço onde estávamos, foi o silêncio.

Por que ela não respondeu? Estava preocupada com os problemas que enfrentaria naquela segunda-feira? Seu café da manhã ainda descia pela garganta, impedindo-a de emitir qualquer som? Usava a telepatia, sem saber que eu ainda não tenho esse dom?

Olhando fixamente para o painel que marcava a passagem pelos andares - quatro, três, dois - fiquei com as perguntas. Elas foram companheiras de viagem. Uma viagem longa, estranha, constrangedora. Sem respostas.

Eu que entrei no quinto andar com meus cinco sentidos ainda adormecidos, pensava sobre aquele momento. Moro no quinto andar. Seria o quinto andar um andar inferior? Não. Isto não faz sentido. Não sei o que faz sentido. Chegamos à garagem. Portas abertas. Saimos do elevador para vivermos a segunda-feira. Em silêncio.